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Há cerca de uma semana referi que PS e PSD não estão a fazer campanha. Fazem de mortos.
Rectifico. A coligação está a fazer: como governo, com enfoque nas “boas notícias”.
O Pontal está a fazer uma semana. Ao longo destes dias quais as iniciativas de campanha da PaF? Com eco nos media, só a Universidade de Verão. Nada mais.
Mas ministros não páram. Inaugurações são diárias. Conselho de Ministros responde a algumas forças de pressão. Até para os pescadores há um subsidio para estarem inactivos (na pesca da sardinha e na contestação).
Na verdade, porque PSD e CDS vão fazer campanha se as noticias recentes são positivas!
O propósito é bem evidente: “batemos no fundo, estamos a recuperar, é bom não voltarmos atrás”. Por outras palavras, estão a anular o motivo da mudança.
O challenger, deste modo, tem muito mais dificuldades. Por outro lado, de um modo frio, colocam-se os dois contendores na seguinte posição: um promete, o outro faz.
Neste contexto, não há de facto ausência de campanha da PaF. Todos os dias estão a fazer comunicação política. Difícil de contrabalançar.
Namoro. É o titulo do poema de Viriato da Cruz e adapta-se bem ao contexto: as várias cartas que António Costa tem escrito aos eleitores.
Processo simples, básico. Típico de há um século atrás.
Curiosamente tem sido muito eficaz.
Já vamos no quarto dia e cada carta tem tido grande eco na comunicação social. Até comentário de politólogos.
A edição é feita online, cada missiva tem sido antecipada à imprensa e, depois, é propagada pelas redes sociais.
Além de eficaz é muito barato.
Estão bem uns para os outros. PS e PaF estão a fazer não campanha.
Sem ideias, sem iniciativas, sem criatividade. Um deserto.
Uns fazem de mortos porque contam com o desgaste do Governo. Os outros, fazem de mortos porque contam com o medo do passado.
Fontes da coligação disseram há pouco mais de um mês que não chega ameaçar com o passado. Deve-se projectar o futuro. Emprego e questões sociais. Na verdade até fizeram uns documentos e cartazes sobre o tema. Pouco mais.
No Pontal nada disseram sobre o futuro. Nem uma ideia para resolver os problemas dos eleitores. Colocam nos portugueses palas como fazem aos burros para que olhem apenas para a frente. Nada se passa ao lado.
Por outro lado, a campanha está em coma induzido. Não há iniciativas, pseudo-acontecimentos, reuniões públicas, visitas dos lideres a empresas. Nada.
O PS também não está melhor. Além dos tiros nos pés, o vazio é ensurdecedor.
Veja-se o PSOE que em breve também estará em contenda eleitoral. Aproveitou a discussão sobre a reformulação das instituições europeias e avançou com um documento que vai apresentar a Hollande. A União Europeia é um tema fundamental. Os socialistas ibéricos sempre o disseram. Os de Espanha avançaram com uma iniciativa. Os portugueses nada fazem. Mais estranho ainda quando o documento do PSOE assenta em muitas das bandeiras defendidas pelo PS nos últimos anos.
Por cá domina a letargia.
A comunicação politica é casuistica. Depende das manchetes dos jornais e das estatisticas do INE.
Assim, é dificil combater a abstenção.
O vidro temperado tem tempera, aumenta a capacidade ao choque. Quando quebra, divide-se em fragmentos granulados.
É o que está a suceder à campanha do PS e a António Costa.
Dou apenas alguns exemplos de algumas pessoas que, julgo, se situarão no que se pode considerar o eleitorado do PS:
O mais recente - António Colaço, este sábado no Expresso.
O antigo assessor do Grupo Parlamentar do PS é demolidor.
Não reconhece a António Costa capacidade de gerar confiança em função das decisões que tomou. No deita abaixo de Seguro e na saída da Câmara de Lisboa.
Outro exemplo – Seixas da Costa, tendo como pretexto as eleições presidenciais. Considera que a situação não tem remédio. O problema só ficará atenuado se o PSD e a coligação tiverem sarilho idêntico.
Outra opinião, a de Viriato Soromenho Marques num artigo no DN.
Um texto que só uma visão independente tem coragem de escrever. Poucos com cartão de militante estariam disponíveis para o fazer, embora, muitos concordem com a escrita.
Por último, o lamento de Baptista Bastos.
Estes relatos públicos sintetizam-se no seguinte: desanimo, decepção….
António Colaço, que é autor do blog “Ânimo – para tornar os dias mais leves” , deverá perceber ao que me refiro.
Subjectividade à parte, o que é relevante é que a manifestação destes estados de alma têm impacto. Nas “tropas”, em quem faz opinião (da barbearia da aldeia ao comentador de tv) e na própria organização de campanha que passa a sentir esta pressão de forma permanente: “o que fazer para dar a volta?”
Esta pergunta origina, com frequência, maus resultados. Iniciativas disparatadas, mudança de eixo de campanha (que na campanha do PS não existe qualquer um!), respostas tensas...
Responsáveis de campanhas eleitorais já o sentiram e sabem que o melhor é reagir a frio. Preferencialmente com dados estruturados como, por exemplo, estudos de opinião – com frequência a opinião publicada nada tem a ver com a opinião do eleitorado que se pretende atingir.
O mais paradoxal é que a coligação está vazia, também não motiva...
Hoje iniciam a campanha eleitoral, com o famoso comício no Algarve.
Qual a grande novidade politica que antecipam? Resposta no Expresso – “Coligação vai ter 5 mil bandeiras na festa do Pontal”.
A diferença estará na gestão das expectativas.
Costa foi eleito sg do PS em Outubro para vencer com maioria absoluta, destronar não por poucochinho a maioria… as sondagens projectaram o PS para os 40%.
Ao contrário, PSD e CDS arrastavam-se numa agonia.
Hoje as duas forças partidárias estão em empate técnico.
Por último, o PSD e o CDS não têm feito erros na campanha (na verdade nem têm feito campanha), enquanto o challenger tem sido noticia por incompetência na comunicação politica e contaminação por parte das presidenciais.
Não se estranhe assim o desnamino, a fragmentação granular de um vidro que até era resistente ao choque.
A política é um jogo de soma zero. O que um ganha, perde o outro. É um mercado muito competitivo. O desleixo ou a má fortuna de uns pode ser a oportunidade de outros.
Foi o que fez o BE.
Perante os erros do PS e a visibilidade que o assunto teve a nível nacional, o Bloco aproveitou a oportunidade e colocou outdoors onde diz que dá a voz a "desempregados reais", a "gente de verdade que dá a cara".
O que o BE quer dizer é mais.
Não é apenas afirmar que são melhores criativos. Não. Pretendem lutar pelo eleitorado que pode votar no PS. No fundo querem dizer:"nós fazemos verdadeira oposição. De verdade. Não temos medo de dar a cara". Por outras palavras, se não queres a coligação, se queres uma verdadeira oposição, "gente de verdade", vota no BE.
Graficamente o cartaz está bem feito. É muito parecido com os do PS sobre o desemprego. Boas fotos, fortes, duras, expressivas. O preto e branco dá força ao rosto e ao texto. A única cor é a assinatura do BE. O contraponto do simbolismo do preto e branco.
A construção da imagem de um líder politico é feita através de gestos e plavras simples. De percepção fácil. Que ficam na nossa memória, mesmo que seja por pouco tempo. Mas fica algo, nem que seja uma impressão. Se tiver algum afecto ou emotividade, melhor.
Uma das técnicas para fazer esta avaliação é ver as imagens na tv e desligar o som. Tente perceber o que fica, que impressão lhe causa.
Se quem está a ver estas imagens se sentir descomprometido (não sente que é propaganda, publicidade ou qualquer outra mensagem que remeta para objectivos dissimulados) o efeito pode ser amplificado.
Estas observações surgem a propósito de uma reportagem numa tv. Esta noite. no principal bloco informativo da TVI.
Coloco já dois pontos prévios: não há qualquer intenção de criticar o órgão de comunicação social/jornalista (é um trabalho que não me merece qualquer crítica, muito menos suspeita), nem o facto do líder do PSD estar acompanhado da sua mulher em fase de tratamento de um cancro. Repito: não tem nada a ver com os dois aspectos atrás referidos. Mais, até considero mutio positivo o comportamento da mulher de Passos Coelho ao surgir em público com as marcas do tratamento clínico. É um relevante contributo para acabar com o estigma de uma doença que afecta milhares de portugueses e que, com frequência, os próprios jornalistas ajudaram a estigmatizar quando diziam que "a pesssoa x morreu de doença prolongada".
Vamos apenas ao que importa:
Um casal passeia na rua. De mãos dadas. Ela com sinais frágeis de saúde, ele com ar informal, de calça de ganga, camisola de fora das calças. Sorriem. Algumas pessoas passam ao lado. Uns cumprimentam. O cumprimento é retribuído. Outros são indiferentes. Normal.
Passos Coelho fica rodeado de pessoas. Fala com alguns jovens sobre a temperatura da água do mar. Um pouco atrás uma mulher aproxima-se de Laura. Falam com cortesia.
Mais à frente nova abordagem na rua. Agora por outro casal. Conversa em tom informal, de conhecidos que se encontram fortuitamente.
Nova sequência de imagens, plano mais afastado, o casal segue o seu caminho, no meio de uma rua, com calma. Um casal comum. De férias, como muitos outros portugueses.
Pelo meio há depoimentos de Passos Coelho à TVI. Não importa o que ele diz. Muito provavelmente, minutos depois ninguém se lembrará das palavras proferidas. Mas, para muitos, ficaram na memória as imagens de uma casal comum a passear numa rua do Algarve. Um casal de mãos dadas. Que sorri apesar dos contratempos das nossas vidas.
Qualquer assessor de imagem não faria melhor. Repito: não quero sequer insinuar que exista qualquer intenção (das duas partes - jornalista e Passos Coelho) de construirem uma excelente peça de comunicação política.
Mas que o é, é. Tem um efeito brutal na "humanização" da imagem de Passos Coelho.
Politicos e assesores: habituem-se. Estão agora a serem permanentemente escrutinados. O mais pequeno erro é a morte do artista. Nas redes sociais é o híper gozo. Não perdoam.
Esta campanha revela já uma realidade que vai permanecer. O poder da palavra, da influência, deixou de estar nas mãos de poucos. Massificou-se através das redes sociais.
Há muita gente à espreita. Observam, pesquisam, e comentam. Cada falha é mil vezes destacada. Pior: é puro gozo.
O que se tem passado é bem revelador. Antes dos media pegarem na história, ela já se propagou nas redes sociais.
O folhetim dos cartazes é o último exemplo. Os erros tornaram-se colossais! Quando os media pegaram nas histórias a narrativa já estava no fim. Limitaram-se a dar eco.
Numa altura onde as duas maiores forças políticas apostam numa postura defensiva, cautelosa, os erros na comunicação política destruiram o efeito pretendido da mensagem.
Como dizia Roger Ailes "you are the message". Se a mensagem é errada ou foi distorcida, se não sabes comunicar, ningém quer ser teu amigo no Facebook!
- nem a propósito. ver texto "Está a causar grande polémica nas redes sociais…" de Paulo Ferreira no Observador
O PS está a ter um sério problema com os outdoors. Na verdade, as polémicas geradas estão a provocar um efeito contrário ao pretendido.
Redes sociais, blogues, páginas de comentários...e posterior utilização pelos média tradicionais, estão a anular a comunicação política do PS.
Cronologia dos últimos cartazes:
O PS desencadeou uma operação para combater a mensagem da coligação de que o governo está a atenuar significativamente o problema do desemprego (a maior preocuapção dos portugueses segundo as várias sondagens).
Graficamente os outdoors são interessantes. Preto e branco e boa foto. Uma pessoa, uma história, um caso. Problema dos cartazes: um deles remete a história pessoal para o último governo... do PS. Segundo problema: colocam os figurantes ao lado de citações. Falso!
Redes sociais e media pegaram na história.
A polémica já tem rasto. A vaga anterior também não foi pacíifica e esteve na origem de várias notícias. Edson Athayde sai e não sai.
A campanha dos outdoors foi ou não retirada por causa da qualidade de comunicação dos cartazes...
Pior, foi pretexto para gozação nas redes sociais.
Uma polémica que anulou significativamente o efeito pretendido.
O sol radiante surgiu pouco depois de uma mensagem que dava corpo à prioridade definida pelo PS: o emprego.
O que, do ponto de vista da narrativa é um pouco confuso. Por outras palavras, o que deveria ter sido feito primeiro era a difusão de uma mensagem negativa, o último cartaz, das pessoas que estão no desemprego. O que está mal, o que preocupa os portugueses.
Na minha opinião esta vaga de cartazes já devia ter sido feita há mais tempo. Pouco depois da Convenção. Assinalar e colocar na agenda um dos temas negativos para a coligação. Assimilar. Desgastar.
Só depois se passaria para a mensagem positiva, a mudança. Nunca: "emprego", depois "Tempo de Confiança" e a seguir "desemprego". Não bate certo.
Antes da prioridade ao emprego o PS projectou o seu líder, tentando associar a ideia de confiança e rigor.
Tudo bem.
O cartaz é que podia ser muito melhor. Graficamente pobre e nem sequer era fácil de ler...
Um dos soundbytes de Guterres: "as pessoas não são números".
PSD e PS não aprenderam. Só falam em números quando se pronunciam sobre o desemprego.
A política é feita para as pessoas. Com pessoas. Com retratos, casos pessoais.
Estatistica é abstração.
É curioso que nesta campanha pouco se fala de pessoas e não pára a retórica com números. Numa altura em que milhares de famílias se confrontam com problemas concretos e angustiantes.
INE anuncia dados sobre desemprego. Resposta do maior partido da oposição em título do Público: "PS acusa Governo de “fabricar estatísticas com fundos estruturais”.