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Resultados sem contar com emigração:
- A PAF perdeu 833 mil votos
- O BE ganhou 267 mil votos
- Os "outros partidos" ganharam 215 mil votos
- A abstenção teve mais 214 mil votantes
- O PS ganhou 172 mil votos
- A CDU ganhou 3 mil votos
- Houve menos 36 mil votos brancos
Uma leitura simples:
Dos 869 mil votos (833 mil votos que a PaF perdeu mais 36 mil que deixaram de ser votos brancos) :
- 30.7% foram para o BE
- 24.7% foram para outros partidos
- 24.6% foram para abstenção
- 19.8% foram para o PS
O balanço é ainda cedo para fazer.
Mas, a uma semana do fim da campanha, já possível avaliar algumas das particularidades desta campanha eleitoral.
a) a campanha vai morna. Os pontos alts foram os debates. Como, em função da nova legislação, desta vez todos os debates foram na pré-campanha, os pontos altos ficaram muito distantes do dia das eleições. Perdeu-se confronto, anulou-se expectativa.
b) no arranque deste processo e face ao aparente empate (nas sondagens e na capacidade de combate dos líderes do PS e da PaF e das respectivas candidaturas) criou-se a expectativa de que os debates podiam ser duplamente esclarecedores. Em relação ao conteúdo programático e também na tendência de quem podia ser o vencedor. Terminados os debate entre António Costa e Passos Coelho tudo voltou ao ponto zero. Em vez de desempatar, os debates empataram.
c) a clivagem e o respectivo efeito nas sondagens surgiu depois do debate. Quando António Costa recusou viabilizar o orçamento de um eventual governo minoritário da PaF. Junto com a recusa de diálogo sobre a Segurança Social, António Costa traçou um caminho. As sondagens evidenciaram o reflexo dessa opção.
d) as sondages entraram na nossa rotina. Ficará por determinar o efeito. Mas aguardo que me expliquem, do ponto de vista científico, o valor de uma sondagem com uma amostra efectiva de 100 pessoas. Cem!. Aguardo também que me expliquem como se misturam sondagens no espaço público em que, umas, têm uma taxa de erro de 3% e a outra de 9.8%!
e) são tantas as sondagens e o ruído que provocam é de tal forma grande que não se faz política. Discutem-se expectativas e cenários.
f) os indecisos. Dizem que o número é elevado e que se manteve ao longo da campanha. Não é elevado em função de eleições anteriores. Manteve-se e a explicação não é fácil. Talvez por ser a primeira eleição para a Assembleia da República onde muitos portugueses percebem que o centro de decisão não está no governo português? Juntando ao desencanto?
g) do ponto de vista da comunicação política não houve inovação. Zero. Onde houve mais criatividade foi nos erros.
h) Ainda do ponto de vista da comunicação política, duas notas. Passos Coelho tem um estilo pouco mediático. Falso. A sua forma de comunicar não produz soundbytes mas parece revelar-se eficaz. Veja-se como ofuscou o parceiro, Paulo Portas, eximio comunicador. Segunda nota: o renascimento da liderança do Bloco. Durante muito tempo Francisco Loução era a referência. Muito dificil de substituir. Catarina Martins superou esta dificuldade.
A líder do BE tem sido elogiada nesta fase de pré-campanha.
Os elogios advêm da prestação televisiva.
Em primeiro lugar, Catarina Martins soube aproveitar a oportunidade na fase de negociação. Foi a única líder da oposição a aceitar debater com Paulo Portas. Os restantes partidos recusaram em função da alteração legislativa. Catarina teve, assim, mais expoisção do que os restantes.
Só isto não chegava.
O principal atributo porque merece estes elogios tem a ver com a forma como se preparou para os debates.
O Expresso fala em alteração no visual.
Sim, tanbém foi. Mas foi mais do que isso. Para cada debate Catarina Martins levou uma ideia clara, um objectivo determinado.
Com Paulo Portas procurou centrar a mensagem nas questões sociais.
Com Jerónimo de Sousa foi a prestação mais fraca. Na verdade não houve debate.
No confronto com Passos Coelho foi dura. Nas palavras e na oportunidade política. O adiamento da venda do Novo Banco foi utilizado como pretexto para exigir a Passos que devia pedir “desculpa” aos portugueses por ter garantido o contrário.
Por último, a António Costa repetiu até à exasutão a ideia de que o PS vai retirar aos pensionistas 1.600 milhões nos próximos quatro anos.
Catarina não se perdeu. Em cada um destes debates focou-se na mensagem que pretendia transmitir. Não saiu deste objectivo. Com uma linguagem acessível a todos e com uma postura combativa mas menos guerrilheira não perdeu as oportunidades para marcar pontos.
Todos contrargumentaram com o caso da Grécia. Não foi fácil mas também tinha a lição estudada.
Catarina Martins/Jerónimo de Sousa.
Realizar debates sem justificação editorial dá nisto: "O debate da esquerda que não teve combate".
Pelo que relata Manuel Agostinho Magalhães, no jornal Sol, "Trinta e cinco minutos depois do início do debate, o moderador procurou um tema em que os dois partidos pudessem expressar diferenças: a preparação da saída do euro." Nem assim conseguiu.
Vamos ver as audiências... (115 mil espectadores)
Do ponto de vista da comunicação política e da perspectiva editorial não era preferível entrevistas separadas?
Começa hoje a série de debates das Legislativas 2015.
Podem ser um "aditivo" para a comunicação política eleitoral numa altura onde os portugueses dão sinais de indiferença à campanha eleitoral.Ou os responsáveis políticos perderam o norte em termos de comunicação política.
É provável que sejam ambos. Os portugueses não querem saber da política e os políticos não sabem comunicar com os portugueses.
Ouvi vários noticiários durante a manhã. TSF e Ant1. O tema dos debates foi abordado mas era uma das últimas histórias do alinhamento. Com pouca informação. Apenas a noticia do debate BE/CDU. A TSF tinha ainda um spot promocional. Nada mais. Na imprensa pouco mais.
Alguns exemplos: o Observador diz que "Apenas um em cada oito portugueses assiste a debates políticos" e o Público refere que "Debates televisivos influenciam, mas podem ter atingido alguma “saturação”".
Os debates são importantes na estratégia de comunicação política. Podem mesmo ser decisivos. Num contexto de empate tecnico entre PS e PaF os debates entre Passos Coelho e António Costa podem ter grande relevância.
O líder do PS sabe dessa relevância e até participou num media training.
Acredito que Passos Coelho tenha ou venha a fazer o mesmo. A diferença é que não vai ser divulgado.
Esta relevância é partilhada num telex da Lusa que acredita que os debates podem superar as audiências em relação a confrontos televisivos anteriores.
Lista dos debates programados:
Catarina Martins e Jerónimo de Sousa 1 Set. (vídeo) RTP-Informação (115 mil espectadores)
Catarina Martins e Paulo Portas 8 Set (vídeo) SIC-Notícias. (218 mil espectadores)
Passos Coelho e António Costa 9 Set. (vídeo) RTP/SIC/TVI (3,4 milhões espectadores)
Passos Coelho e Catarina Martins 11 Set. (vídeo) RTP-Informação (136 mil espectadores)
António Costa e Catarina Martins 14 Set.(vídeo) na TVI24 (208 mil espectadores)
António Costa e Jerónimo de Sousa 16 Set na SIC-Noticias
Passos Coelho e António Costa 17 Set. (video) Ant1/TSF/RR (1,272) milhões ouvintes)
Heloísa Apolónia e Paulo Portas 18 Set (vídeo) TVI24
A política é um jogo de soma zero. O que um ganha, perde o outro. É um mercado muito competitivo. O desleixo ou a má fortuna de uns pode ser a oportunidade de outros.
Foi o que fez o BE.
Perante os erros do PS e a visibilidade que o assunto teve a nível nacional, o Bloco aproveitou a oportunidade e colocou outdoors onde diz que dá a voz a "desempregados reais", a "gente de verdade que dá a cara".
O que o BE quer dizer é mais.
Não é apenas afirmar que são melhores criativos. Não. Pretendem lutar pelo eleitorado que pode votar no PS. No fundo querem dizer:"nós fazemos verdadeira oposição. De verdade. Não temos medo de dar a cara". Por outras palavras, se não queres a coligação, se queres uma verdadeira oposição, "gente de verdade", vota no BE.
Graficamente o cartaz está bem feito. É muito parecido com os do PS sobre o desemprego. Boas fotos, fortes, duras, expressivas. O preto e branco dá força ao rosto e ao texto. A única cor é a assinatura do BE. O contraponto do simbolismo do preto e branco.