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Olho hoje para as primeiras páginas dos diários nacionais. Apenas um, o DN, tem em destaque uma notícia sobre a campanha eleitoral. O I tem uma entrevista a João Cravinho que releva uma frase sobre o resultado das eleições.
Os restantes dão destaque a José Sócrates, futebol...e refugiados.
No mesmo dia arranca uma série de debates televisivos (Catarina Portas/Paulo Portas) e vários líderes partidários andam em campanha.
As televisões não fogem à regra. Pouco destaque nos principais blocos informativos.
Uma notícia do Público de hoje pergunta "Portugueses estão a ficar cansados das entrevistas aos líderes partidários?". O motivo da pergunta tem a ver com a audiometria revelar que as audiências televisivas das entrevistas aos dirigentes partidários têm vindo a baixar.
A flata de interesse revela que a campanha está a passar ao lado de muitos portugueses. Tenho mesmo dúvidas se as estruturas partidárias conseguem até estabelecer contacto com alguns dos eleitores tal a indiferença.
Pode haver razões específicas. Campanhas mal organizadas e delineadas. Mera comunicação política em vez de marketing eleitoral... Parece-me que o problema é mais complexo. A crise de 2011 provocou uma muralha entre os portugueses e a vida política.
O vidro temperado tem tempera, aumenta a capacidade ao choque. Quando quebra, divide-se em fragmentos granulados.
É o que está a suceder à campanha do PS e a António Costa.
Dou apenas alguns exemplos de algumas pessoas que, julgo, se situarão no que se pode considerar o eleitorado do PS:
O mais recente - António Colaço, este sábado no Expresso.
O antigo assessor do Grupo Parlamentar do PS é demolidor.
Não reconhece a António Costa capacidade de gerar confiança em função das decisões que tomou. No deita abaixo de Seguro e na saída da Câmara de Lisboa.
Outro exemplo – Seixas da Costa, tendo como pretexto as eleições presidenciais. Considera que a situação não tem remédio. O problema só ficará atenuado se o PSD e a coligação tiverem sarilho idêntico.
Outra opinião, a de Viriato Soromenho Marques num artigo no DN.
Um texto que só uma visão independente tem coragem de escrever. Poucos com cartão de militante estariam disponíveis para o fazer, embora, muitos concordem com a escrita.
Por último, o lamento de Baptista Bastos.
Estes relatos públicos sintetizam-se no seguinte: desanimo, decepção….
António Colaço, que é autor do blog “Ânimo – para tornar os dias mais leves” , deverá perceber ao que me refiro.
Subjectividade à parte, o que é relevante é que a manifestação destes estados de alma têm impacto. Nas “tropas”, em quem faz opinião (da barbearia da aldeia ao comentador de tv) e na própria organização de campanha que passa a sentir esta pressão de forma permanente: “o que fazer para dar a volta?”
Esta pergunta origina, com frequência, maus resultados. Iniciativas disparatadas, mudança de eixo de campanha (que na campanha do PS não existe qualquer um!), respostas tensas...
Responsáveis de campanhas eleitorais já o sentiram e sabem que o melhor é reagir a frio. Preferencialmente com dados estruturados como, por exemplo, estudos de opinião – com frequência a opinião publicada nada tem a ver com a opinião do eleitorado que se pretende atingir.
O mais paradoxal é que a coligação está vazia, também não motiva...
Hoje iniciam a campanha eleitoral, com o famoso comício no Algarve.
Qual a grande novidade politica que antecipam? Resposta no Expresso – “Coligação vai ter 5 mil bandeiras na festa do Pontal”.
A diferença estará na gestão das expectativas.
Costa foi eleito sg do PS em Outubro para vencer com maioria absoluta, destronar não por poucochinho a maioria… as sondagens projectaram o PS para os 40%.
Ao contrário, PSD e CDS arrastavam-se numa agonia.
Hoje as duas forças partidárias estão em empate técnico.
Por último, o PSD e o CDS não têm feito erros na campanha (na verdade nem têm feito campanha), enquanto o challenger tem sido noticia por incompetência na comunicação politica e contaminação por parte das presidenciais.
Não se estranhe assim o desnamino, a fragmentação granular de um vidro que até era resistente ao choque.