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Na entrevista desta noite na RTP, António Costa deu várias vezes a entender que ainda estava no debate com Passos Coelho.
Insinuou e até referiu directamente que o jornalista estava a argumentar tal e qual a coligação. Crispou-se com Vitor Gonçalves e ao longo do programa foi acusando o jornalista de parcialidade. Na parte final, minutos antes da entrevista acabar, trocaram mesmo um diálogo que António Costa marcou com tom azedo.
O jornalista foi dando sempre a mesma resposta. "Limitava-se a fazer perguntas". E bem, não perdeu a compostura.
Ao contrário, António Costa foi perdendo a noção do risco que estava a cometer. Foi subindo a arrogância.
Ontem mostrou segurança, hoje, com um jornalista, revelou-se irrascível.
Maus sinais....
Quem joga à defesa, está empatado tecnicamente e teve um tónico no último debate, não pode originar "caso". É teia de aranha que a oposição aproveita e, eventualmente, os jornalistas saboreiam.
A entrevista é um instrumento muito relevante na comunicação política. Mais ainda quando se ocupa o "prime time".
Pontos negativos:
- António Costa estava mal vestido e/ou com má iluminação. Os planos mais próximos provocavam um efeito de estranheza, em particular devido ao casaco. Este começa a ser um problema recorrente. A imagem do último cartaz não é feliz. Esta semana apareceu nas tvs com óculos escuros que também provocam um efeito de estranheza (além da questão de que quando se esconde os olhos, falha a comunicação).
- António Costa deu alguma novidade, algo que ele próprio gostaria que fosse notícia nos outros órgãos de comunicação social? Não apresentou nada de novo, o que permitiu aos jornalistas utilizar para notícias uma grande diversidade de aspectos, alguns talvez não desejáveis do ponto de vista da comunicação política. Por vezes, mais importante do que a entrevista é o eco. O que os vários órgãos de comunicação social vão transmitir nas próximas horas (1)
Pontos positivos:
- Serenidade. Atributo positivo para quem quer ser primeiro ministro e dar um sinal de confiança. Algumas vezes criticou A. J. Seguro por este assumir exageradamente este papel, sendo pouco combativo. No entanto, esse era o registo certo e António Costa também o assumiu.
- Boa capacidade de explicação em problemas dificeis de comunicar: TSU e segurança social. Aqui esteve muito bem quando personaliza: a minha mãe, eu, os meus filhos...
- Apostou no que pretende ser o eixo da sua campanha: criação de emprego. O líder do PS tem falhado neste propósito mas hoje conseguiu colocar o tema no centro da sua comunicação política.
- Coerência com a questão José Sócrates. Talvez não fosse necessária a frase se o caso lhe "doi ou não", até pode azedar alguns "camaradas", mas o que disse é coerente e segue a estratégia (até agora eficaz) de evitar que o PS seja contaminado pela detenção do seu antigo secretário-geral.
(1) Sinal de que deixou em roda livre os jornalistas que vão trabalhar a entrevista é o resultado da pesquisa de noticias no Google, uma hora depois de terminar a entrevista:
- António Costa: Esquerda em competição para ver quem é mais anti-PS (Negócios)
- "É preciso vencer com maioria absoluta. O país precisa de compromissos" (Noticias ao minuto)
- António Costa diz que muitos eleitores só decidem o voto na campanha (JN)
- Costa quer mais escalões do IRS (TVI)
- Costa desdramatiza sondagens e diz que muitos eleitores só decidem o voto na campanha (RTP)
- Costa defende descida da TSU obrigatória para trabalhadores. (SIC)